sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

A.1 Judeu-cristão me fizeram.



Judeu-cristão me fizeram

Judeu-cristão nasci,
ou tu me fizeste, Mãe.
Sem pecado de corpo, quase,
e em segredo, quase,
e em segredo, quase criado
no teu peito amamentado,
no teu peito que me amava
com carícias de segredo
carícias de quase medo,
segredo d'um gozo novo
escondido por dever.

Judeu-cristão cresci,
a minha boca nascia do teu seio
e o meu choro o relógio
das minhas fomes
e dos teus sobressaltos

Digestäo de dedo grande na boca
sorria, arrotava
fazia tudo o que a natureza mandava
e tudo era graça, tudo encantava.

Corpo pequenino
sem pecado de corpo, quase,
tudo o que querias era teu ou te davam
o teu corpo perfumado
era a pureza do espírito
e o consolo da alma
sem pecado original, quase,
sem culpa de ninguém, quase.

Judeu-cristão me fizeram
… perante as chamas e o monte fumegante
o povo tremia.
Amai-vos uns aos outros.
Amen.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

B.2 - Diagnóstico rápido



O aumento da esperança de vida, entre outros factores, cria um grande desafio aos serviços de saúde, aumentando os seus custos. Quer estes sejam suportados por um serviço nacional de saúde quer por seguros não diferencia significativamente o problema pois o contribuinte será o mesmo num caso ou no outro.

Como frequentemente acontece o problema referido acima pode tornar-se uma oportunidade nas áreas do futuro: - A saúde e o laser. Temos ouvido falar em centros médicos para atrair doentes do Norte da Europa, o que pode considerar-se uma variante de turismo, mas prevejo que em breve toda a bacia mediterrânica estará a concorrer connosco nesta actividade.

Temos também ouvido falar na criação de "clusters" nas áreas médica e farmacêutica.

Numa reunião realizada há meia dúzia de anos nos EUA dizia-me um amigo que, além da biotecnologia iríamos assistir, num futuro próximo, ao desenvolvimento poderoso de duas áreas da medicina, a cirurgia não intrusiva e o diagnóstico rápido. Foi por isso sem grande surpresa que observei algumas companhias da especialidade a procurarem localizar (para aquisição) pequenas empresas que tivessem projectos em desenvolvimento no diagnóstico rápido.

Naturalmente todos os diagnósticos que pelo actual "state of the art" sejam incomodamente demorados são o produto mais apetecido. Refiro, a título de exemplo, as análises bacteriológicas. O método clássico (e muito usado ainda em muitos laboratórios) consiste em colocar uma solução do material em que se presuma existir o microorganismo em Placas de Petri contendo um meio selectivo para cada um (frequentemente preparados com agar agar). Estas Placas de Petri são depois conservadas em estufas onde o microorganismo a estudar fica a "engordar" (passe o plebeísmo). Ao fim de quatro a cinco dias as placas são observadas ao microscópio e feita a contagem dos microorganismos observados. Extrapola-se o resultado para o universo analisado.

Hoje há métodos muito mais rápidos que em vez de demorarem dias podem demorar horas. É um método por identificação indirecta, bioquímico, em que é revelada a "impressão digital" genética do vírus. Mas quando entra no hospital alguém suspeito de ter contraído a gripe das aves seria desejável (seguramente) ter o resultado com maior rapidez… em minutos, para o próximo Telejornal.

Um dia encontrei este aparelho de diagnóstico rápido numa exposição em Southampton no Sul da Grã-bretanha. Pelo que observei o método consistia em fazer incidir sobre uma solução determinada da amostra a analisar luz com vários comprimentos de onda. A comparação da luz incidente com a luz reflectida identificava a que microorganismo estes feixes de luz tinham sido expostos. A análise qualitativa era imediata e a quantitativa demorava de 5 a 10 minutos.

Recebi um catálogo e passados algum tempo procurei entrar em contacto com o fabricante. Não obtive resposta. Posteriormente contaram-me que descontinuara a actividade. Nunca soube porquê. Acontece, a inovação (de um modo geral) não é pêra doce e então quando não tem o Santo Estado a dar uma mãozinha pode ser uma pêra muito acre e dura.

Voltemos ao "Diagnóstico rápido". As "big ten" farmacêuticas sabem que o aumento da esperança de vida é uma grande oportunidade e o "Diagnóstico rápido" é muito útil para o médico e para o doente que pode, ele mesmo, fazer um certo número de exames. Se se não descobrissem progressos importantes nos métodos actuais de prestar cuidados médicos, os números de consultórios e clínicas teriam de ser multiplicados por 3, 4 ou 5 dentro de cinquenta anos. Não é provável.

Para os empresários. Os equipamentos de tomografia computadorizada, ecografia a cores, monitorização da glicose no sangue (sensor intradérmico), os diagnósticos de gravidez, etc., são exemplos de equipamentos, técnicas ou fármacos de Diagnóstico rápido ao dispor dos profissionais ou dos consumidores. As grandes multinacionais estão a investir cada vez mais nesta área, o que quer dizer que esperam dela valor acrescentado. A China e a Índia? Mas a maçã de Newton não pode, de vez em quando, cair sobre a nossa cabeça?

B.1 - Produtividade



O nosso nome:
O Guincho - Praia ventosa no lado Norte da foz do Tejo.
O guincho - Grito amordaçado.

Os nossos temas:
1. Poesia (A)
2. Gestão de Empresas e Engenharia Industrial (B)
3. Dois romances em reconstrução (C, D)
4. Política e afins (E).

Qual é a relação entre estes três assuntos? Nenhuma.




Retrato "O grito" de Edvard Munch

B.1 - Produtividade

Numa Universidade dos EUA podíamos aprender, nos anos oitenta, coisas a que lá chamavam "industrial engeneering" e agora, por cá, se traduzem por "engenharia industrial". A propósito de produtividade um professor repetia sistematicamente: -"Never say the word productivity alone", porque as pessoas têm a tendência para entender a palavra isolada não como uma das muitas produtividades possíveis, mas como Produtividade do Trabalho (isto nos EUA).

Por cá o conselho podia ser redobrado pois a maior parte dos analistas e comentadores sempre que se refere a produtividade põe toda a gente (melhor, quase toda a gente) a pensar que se está a falar de Produtividade do Trabalho, isto é, de trabalhadores com movimentos rápidos (os bons) ou lentos (os maus).

Quem teve a felicidade de trabalhar em fábricas com boa formação profissional e empenhamento sabe que o número de unidades produzidas por hora por trabalhador depende muito mais da eficiência do equipamento e métodos de trabalho (engenharia industrial) que da destreza ou dinamismo do operador. O mesmo operador produz 200 unidades/minuto com uma máquina e 400 unidades/minuto com outra máquina mais moderna e mais rápida, isto é, o número de unidades produzidas depende então do investimento em equipamento e devíamos falar em "Produtividade do Investimento", etc..

Numa fábrica, num hospital ou num escritório há dez, vinte ou mais factores que afectam a Produtividade Geral. Porque nos concentramos então na Produtividade do Trabalho quando falamos de produtividade em abstracto? Será resultado da necessidade de expiar a culpa conforme a nossa educação e cultura "judaico-cristã"?